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Sergipe

DOM JOSÉ VICENTE TÁVORA, PORTA-VOZ DOS MENOS AFORTUNADOS

Publicada em 29/08/22 às 11:15h - 101 visualizações

Atribuna Cultural/Fundada em 30 de março de 2001.


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DOM JOSÉ VICENTE TÁVORA,  PORTA-VOZ DOS MENOS AFORTUNADOS
“Em vossas mãos repousa a minha sorte”. // Salmo 31, 16.  (Foto: Divulgação)
Estudar a história de Dom Távora é analisar o próprio contexto sergipano de uma época em que o analfabetismo beirava os 70% e a falta de oportunidades se espraiavam de maneira torrencial. A sociedade aracajuana vivia numa situação de precariedade assombrosa e esse personagem foi essencial para mudança desse cenário aterrador. Sua práxis nos remete a uma figura que se entregou de corpo e alma para que fosse implementada efetivas modificações em âmbito político-social, sobretudo, por meio da educação.
José Vicente Távora vem a nascer em Orobó, município pernambucano, num dia 19 de julho do ano 1912. Filho do Seu Severino da Silveira e de Dona Antônia de Albuquerque Távora, sabia que desde pequeno teria que ser forte e obstinado para enfrentar com fé os infortúnios existenciais. De seu amável pai herdou o destemor e da mãe teve como espólio o valor das coisas simples. Dos primeiros passos escolares, podemos destacar seu ingresso junto ao Seminário Menor da cidade de Nazaré e no Seminário Maior de Olinda. Dotado por personalidade audaciosa se destacou nesses tempos de labor e estudos.
A sua ordenação se deu no dia 06 de abril do ano 1934, quando foi nomeado então Pároco de Nazaré, com Designação de Visitador Diocesano. Foi Diretor do Seminário Católico Gazeta de Nazaré se realçando pela sua luta e pioneirismo. Depois foi nomeado Pároco de Goiânia em Pernambuco, organizando e presidindo o Segundo Congresso Operário do Estado de Pernambuco. É relevante destacar que entre os anos de 1939 a 1941 inicia sua amplificada atuação no que se refere aos sindicatos operários.
A partir daí, transfere-se para o Rio de Janeiro onde é nomeado como Assistente Eclesiástico da Federação dos Círculos Operários bem como desempenha função de Professor na Faculdade de Filosofia Santa Úrsula. Távora se enleva por seus ensinamentos na cadeira de Doutrina Social da Igreja, na Escola de Serviço Social e no Instituto Social da Pontifícia Universidade Católica. O seu vasto conhecimento, pudemos notar com a pesquisa empreendida, se coadunava com a ação social coletiva, o que refletia com afinco a sua afinidade teórico-prática do Concílio Vaticano II.
Dom Távora soube ter sensibilidade no que tange à sua época vivente. A forma de ele enxergar a Igreja estava voltada para os mais necessitados, o que significava que estava aberta à comunidade em geral, tanto leigos quanto desvalidos. O Templo Santuário Católico estava assim mobilizado para servir efetivamente à parte da sôfrega população e isso no tempo verificado era uma verdadeira revolução. Tanto é que acabou sendo designado Assistente do Cardeal Dom Jaime Barros Câmara em assuntos relacionados à Ação Social.
Seu empenho foi tanto que desembocou na fundação da Ação Social Arquidiocesana, bem como na restauração da Casa da Empregada Doméstica e da instituição da Fundação Leão XIII, voltada à assistência aos moradores de morros e favelas. Foi Assistente Eclesiástico da Ação Social Arquidiocesana, da Liga Independente das Senhoras da Ação Católica, e ainda presidiu a Fundação Leão XIII, prestando também função assistencial junto à Juventude Operária Católica.
A sua eleição para Bispo aconteceu no dia 23 de junho de 1954, e em 25 de julho foi sagrado Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. Em 1957 participou ativamente do Encontro Nacional dos Bispos do Nordeste, do Encontro Internacional da JOC e do Congresso Jocista, em Roma. Dom José Vicente Távora vice presidiu a Legião Brasileira de Assistência, atuou como Superintendente Religioso da Fundação Abrigo Redentor, Assistente Eclesiástico do Movimento Familiar Cristão e Membro da Comissão Executiva do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional.
No dia 27 de novembro do ano 1957, Dom Távora, no auge dos seus 46 anos de idade, foi então nomeado Bispo de Aracaju, de forma sucessória à Dom Fernando Gomes, este que fora nomeado como primeiro Bispo de Goiânia. Sua posse na Diocese de Aracaju se deu no dia 22 de março de 1958, sendo depois, nomeado Arcebispo Metropolitano em 02 de julho de 1960. Nesse tempo efervescente ficou conhecido pela alcunha do “Bispo dos Operários” pelo seu conspícuo engajamento em defesa dos proletários e classe trabalhadora pertencente às camadas populares desassistidas.
Na fascinante História da Arquidiocese de Aracaju podemos afirmar sem lapso de dúvidas que Dom Távora foi uma das suas figuras mais célebres. Primeiro Arcebispo metropolitano, foi daqueles que se dedicaram ferrenhamente às causas sociais no quesito específico da educação. Nesse sentido entra a questão das Escolas Radiofônicas que foram implantadas tanto no meio agrícola quanto na capital sergipana. Depois aconteceu a somação de esforços com o Governo Federal e o Movimento Educacional de Base (MEB), o que formava uma parceria entre a Igreja Católica e o Estado em prol da educação voltadas aos estratos societários pauperizados.
Dom Távora foi sinônimo de desenvolvimento humanista, pois percebia que tinha que preparar e qualificar a população da sua Diocese. De tino visionário, notou que o Rádio poderia atender grande parte das camadas populares, com o objetivo de educar e trazer instrução. Surgiu então a Rádio Cultura em 1959, com a finalidade de promover vida digna para as pessoas e fomentar a consciência cidadã da parcela societária que padecia pelo esquecimento dos poderes públicos.
Pela sua bagagem paroquial junto ao Rio Grande do Norte e Bispo Auxiliar no Rio de Janeiro, Dom Távora estava mais que preparado para concluir suas missões altruístas à frente da Diocese de Aracaju. Temas como a justiça e a caridade se tornaram pautas concretizadas e não mais ficavam no campo das abstratas idealizações. Preocupado com os rumos da humanidade e benéfica promoção social, D. Távora jamais esmoreceu nessa perspectiva. Costumava entoar que a miséria a qual devemos combater deveria ser compreendida por três elementos: a privação, a doença e a ignorância.
As pautas da Diocese de Aracaju se mobilizavam por lutas para garantir melhores condições de vida, na área de saneamento básico e, sobretudo, no aumento qualitativo e amplificação do quadro educacional no Estado de Sergipe. As agruras do povo sergipano tinham em Dom Távora relevante eco de mudanças nesse essencial quesito. O Bispo da Ação Social estava afinado com os eflúvios emanados do Concílio Vaticano II, o que fazia dele um defensor ante os sofrimentos dos desvalidos, especialmente ressoando na Região Nordeste.
O Bispo dos pobres, dos humildes, corajoso e sincero levou a cabo essa missão por toda sua vida. Das diversas ações podemos elencar: fortalecimento do Serviço de Assistência à Mendicância (SAME), criação da Casa Doméstica e estruturação de grupos de convivência com as prostitutas da capital, engajada atuação junto ao Jornal A Cruzada. Trouxe junto aos empresários indústrias para gerar emprego e renda, como exemplificada pela instalação da Fábrica de Cimento. Na agricultura familiar esteve junto persistindo na criação da DEAGRO.
Ademais, transformou a Diocese de Aracaju em Arquidiocese, criou duas Dioceses, uma em Estância e outra em Propriá, dentre outras benfeitorias coletivas. Dentre suas valorosas amizades, enfatizamos sua aliança e afinidade de almas com Dom Helder Câmara, o famoso Santo Rebelde. Assim como Câmara, Dom Távora falava de igual para igual com os governantes de seu tempo, sempre batalhando para angariar o que fosse de melhor para a parte da população mais carente de Sergipe com medidas requisitadas aos altos escalões do poder político sergipano.
Conclui-se que de uma distinta linhagem de bispos como Dom José Tomás, Dom Coutinho, Dom Brandão e Dom Fernando Gomes só para nominar alguns vultos, Dom Távora, sem dúvida alguma, seguiu fielmente os preceitos do que determina a hierarquia do catolicismo. A Igreja sob sua batuta foi administrada de forma estadista, com requintes de eficaz bondade e renovação. Falecido num dia 03 abril do ano 1973, seus incontáveis serviços prestados aos sergipanos se tornam eternizados, pois lições de cidadania participativa assim na história eclesiástica local jamais podem ser olvidadas.

¹ Texto escrito por Igor Salmeron, Sociólogo - Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-UFS), servidor do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, faz parte do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS). Membro vinculado à Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL). E-mail para contato: igorsalmeron_1993@hotmail.com



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