Como na maioria dos lugares que necessitam do trabalho das parteiras, quando o parto tem que ser realizado à noite, a iluminação é garantida por intermédio de lamparinas e candeeiros.
O trabalho das parteiras não é para qualquer um. Trata-se de um trabalho duro, que requer muito esforço físico devidos longas caminhadas, muitas vezes na boca da noite, além da falta de material, treinamento, transporte e perigos em seu ambiente de trabalho. E essas parteiras conviviam com situações de medo, incertezas e insegurança.
As parteiras são mulheres com sentimentos ambivalentes, como medo e coragem, alegria e tristeza, sofrimento e prazer, e possuem uma sensibilidade e sabedoria que colocam muitos profissionais no bolso. E o maior medo e estresse, estão na possível perda do bebê ou a morte da mãe. Elas conhecem bem suas limitações.
A parteira é reconhecida e respeitada pela sua comunidade, e muitas delas usam práticas populares, como uso de plantas medicinais, superstições e de simpatias, além da sempre presente oração, tornando-se a fé um parâmetro para que o trabalho de parto aconteça sem maiores problemas, independentemente da religião que pertençam.
Normalmente esse tipo de trabalho é passado de mãe para filha, perpetuando gerações de parteiras.
A moradora da Usina Priapu, Maria das Graças de Jesus, também carregava consigo esse sentimento de coragem, pois ela era a parteira confiável do lugar.
Na infância tinha o apelido de Dadá, mas depois dos 25 anos de idade, era chamada de Das Graças. Nasceu no dia 25 de fevereiro de 1943, em Santa Luzia do Itanhi. Sempre morou na comunidade rural do Priapu com seus pais José Joaquim de Jesus e Maria Romana Augustinho. A profissão de Das Graças, era trabalhar na roça e tomar conta da casa. Mas tinha sempre tempo de atuar como parteira.
Mãe de dezesseis filhos, Das Graças fazia da atividade de parteira um sacerdócio porque mesmo sem ser remunerada, gostava de ajudar as mulheres de sua comunidade e de outros povoados a dá à luz.
Sua filha, Maria Cilene dos Santos, recorda que Das Graças, uma certa vez, foi procurada por um senhor por nome de Pedro da Preta, morador das Cajazeiras, para ela realizar um parto de uma senhora que estava indo de Indiaroba a Estância. Nessa época, Das Graças residia no povoado Pedras. Então, por não aguentar as dores no caminho, essa senhora recebera a ajuda de Das Graças para parir.
Das Graças era uma senhora humilde e prestativa. Quando a chamavam, ela não tinha horário para sair de casa e fazer o serviço que toda parteira de sua época sabia fazer.
Dos 25 anos até sua velhice, Das Graças foi parteira de ‘mão cheia’, sempre à disposição de quem a procurasse. Montada a cavalo ou a pé, ganhava as estradas dos povoados Tanque dos Bois, Taboa, Palha, Alto Alegre e outros, para gerar vidas.
Das Graças morreu no dia 09 de abril de 2013. Além de ter deixado viúvo o senhor Valter Roque de Jesus, deixou também vinte netos e 10 bisnetos.
Por Magno de Jesus