(por Antonio Samarone)
O Censo de 2022 expressou duas novidades sobre Itabaiana: o crescimento populacional e a religiosidade. Na estimativa do IBGE, em 2024, Itabaiana possuía 108.488 mil habitantes. Um salto demográfico.
A religiosidade em Itabaiana, foi outra surpresa do Censo de 2022: a população evangélica em Itabaiana representa apenas 10,3% do total. É o menor índice do Brasil, entre os 5.569 municípios. A média nacional de evangélicos é 26,9%.
Em Itabaiana, os católicos são 80,7% e, no Brasil, 56,7%. O censo apontou o que já se suspeitava: Itabaiana é a cidade mais católica do Brasil.
O Papa Leão XIV, precisa saber. Podemos pleitear a elevação da Matriz de Santo Antonio e Almas a condição de Basílica, como pensa o padre Marcos Rogério.
Os ateus em Itabaiana são 6,1%, no Brasil, 9,3%. Mesmo assim, os ateus ainda são muitos, em uma terra que até os comunistas guardavam os domingos e dias santos, e jejuavam na quaresma.
O IBGE deu a certidão de religiosidade aos itabaianenses. Agora é oficial.
O turismo religioso não é uma invenção de especialistas, objeto do planejamento governamental. A religiosidade não pode ser criada artificialmente, para exploração turística.
O caminho é o inverso: se existe a religiosidade, a fé, os rituais, a devoção, a atividade turística podem ter sucesso, gerar renda, empregos, sem afetar as atividades sagradas.
A curto prazo, qualquer “Asa Branca”, desmorona. Sinhozinho Malta, Zé das Medalhas e a viúva Porcina tentaram vender a santidade de Roque Santeiro. Não deu certo. Para os mais novos, a novela de Dias Gomes, Roque Santeiro, ocorre na cidade de Asa Branca. Aliás, o sistema Globo está reapresentando Roque Santeiro.
Colocado essa premissa, a sociedade itabaianense possui essa religiosidade necessária ao desenvolvimento do turismo religioso. São dados do IBGE.
Historicamente, Itabaiana foi criada sob a égide dos Franciscanos e Beneditinos. Sob a proteção de Santo Antonio e de São Miguel. A Igreja, durante séculos, ocupou uma centralidade cultural, forjada nas sacristias.
Os padres em Itabaiana, sempre foram influentes no dia-a-dia. Fizeram história. O papel da igreja foi relativizada durante a última ditadura militar. A igreja católica proibiu os padres a militância política aberta.
Na segunda metade do século XIX, o Cônego Domingos de Melo Resende, pastorou o rebanho em Itabaiana por 50 anos (1852 – 1902). O Cônego era de família rica da Capela. O pai, era o Capitão Mor Manuel de Melo Resende, proprietário de Engenhos e Alambiques.
O Cônego era um liberal, ocupou cadeira na Assembleia Provincial. Um sacerdote que zelava pelas ovelhas carentes. Inimigo do Celibato, o Cônego Domingos deixou uma prole numerosa. Nunca escondeu, assumiu a todos e aparecia como pai, nas certidões de nascimento.
O Cônego Domingos faleceu em 1902, sendo sepultado dentro da igreja. Como era de costume.
O tumulo do Cônego Domingos de Melo Resende foi removido da Igreja, pelo Monsenhor José Curvelo Soares (1967 – 1975). Aqui é outra história que contaremos depois.
Aliás, para restabelecer a verdade, um neto do Cônego, João de Melo Resende (João de Balbino), foi que iniciou a festa dos caminhoneiros em Itabaiana, durante a gestão do prefeito Serapião Antonio de Gois (1955 – 1958).
O Cônego Domingos foi substituído pelo padre Vicente Valentim da Cunha (1902 – 1912). Valentim era natural de Paripiranga, ligado aos Pebas, na política. Quanto ao celibato, mesmo sendo mais discreto, vivia com mulher e filhos em um sítio, no Canto Escuro (foto).
Na entrada do século XX, Itabaiana era uma comunidade pobre, sem estradas, sem água, voltada para a agricultura de subsistência. O que sobrava, era levado às feiras de boa parte de Sergipe, de Aracaju ao Sertão de Jeremoabo. A fama de celeiro.
Se não bastasse a política, dominada pelo médico lagartense Batista Itajay, O padre Valentim foi substituído pelo Monsenhor Vicente Francisco de Jesus (1913 – 1916). Outro filho de Lagarto.
O Monsenhor Vicente de Jesus chegou a Itabaiana em 26 de janeiro de 1913. Aliou-se politicamente a Itajay (já em decadência).
Começou reformando a igreja, colocou um relógio na torre, trocou os sinos e substituiu os quadros da via-sacra. Encerrou os sepultamentos no Cemitezinho, no fundo da igreja, em 19 de abril de 1913. No mesmo dia, inaugurou o Cemitério de Santo Antonio e Almas (o atual). Uma novidade, respeitava o celibato, pelo menos publicamente.
Sobre o conflito do Monsenhor Vicente Francisco de Jesus com o Coronel Sebrão, eu já falei no último texto.
O espaço é pequeno, depois eu conto quem foram os demais padres, o que fizeram e como cultivaram a religiosidade dos itabaianenses, durante a história. Qual foi o papel da igreja católica, no desenvolvimento de Itabaiana?
Sobre a Basílica, sabemos que a Matriz de Antonio e Almas tem uma história (350 anos) e relevância religiosa, mas precisa de um banho arquitetônico. O banho será dado.
(*) Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.