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Sergipe

MESTRE MUQUIRANA: HISTÓRIA VIVA DA CAPOEIRA EM ESTÂNCIA

Publicada em 17/09/25 às 14:06h - 71 visualizações

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MESTRE MUQUIRANA: HISTÓRIA VIVA DA CAPOEIRA EM ESTÂNCIA
 (Foto: TRIBUNA CULTURAL/DIVULGAÇÃO)

*Marcelo Vieira

A cidade de Estância, terra do “barco de fogo” e do “tremendão”, tem na prática da capoeira uma parte significativa de suas tradições culturais. O pioneirismo dessa arte tem nome: Bonifácio Santos, conhecido no meio da capoeiragem como “Muquirana”, declaradamente negro, pescador artesanal, operário da construção civil. Exímio professor de capoeira, formou-se em mestre no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. Ele toma a capoeira como luta e filosofia de vida.

Nos meados dos anos 70, a figura do capoeirista era envolta em mistérios e lendas: um ser dotado de habilidades surreais, com trejeitos mandingueiros, capaz de disfarçar uma luta poderosa em dança teatral e enganar facilmente o oponente, como se fosse feitiço. O capoeirista era temido por sua destreza em aplicar golpes rápidos e precisos, desequilibrando em qualquer peleja. Naquele período, dominar os movimentos básicos da Capoeira era a garantia de uma defesa pessoal eficaz: com seus golpes, era possível neutralizar o “agressor” em brigas de rua, nas beiras de rios ou nas peladas de fim de tarde nos campinhos de terra batida.

Naquele tempo, os jovens que buscavam aprender capoeira se valiam de estratégias simples e recorriam à abundância da natureza. Reuniam-se nos quintais, nas margens dos rios e marés para treinar os movimentos básicos. As músicas e toques de berimbau eram aprendidos a partir de discos de vinil. Alguns garotos ainda tentavam contato com grupos de Aracaju, como o “Berimbau de Ouro”, para adquirir novos conhecimentos. Nesse período, em Estância, não havia grupos de capoeira organizados, apenas uma prática amadora, dispersa, sem a orientação de um mestre.

A virada acontece em meados da década de 80, com a chegada de Bonifácio Santos (Muquirana). Bonifácio Santos foi formado como mestre de capoeira no Rio de Janeiro, na academia do mestre Djalma Bandeira (in memoriam). Bonifácio nasceu em São Cristóvão em 14/04/1959. Nos primeiros anos de vida, migrou com seus pais para a cidade de Estância. Em 1972, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por mais de uma década, trabalhando como operário da construção civil e auxiliar de limpeza pública. Teve seu primeiro contato com a capoeira aos 13 anos de idade, quando foi levado pelo padrasto para assistir a uma roda de capoeira do grupo de “Djalma Bandeira”. O encanto foi imediato. A participação no grupo lhe permitiu conhecer nomes importantes da capoeira carioca, como: Mestre Leopoldina, Covo, Covinho e Mestre Camisa (fundador do Abadá-Capoeira).

Ao retornar às terras banhadas pelos rios Piauitinga e Piauí, fundou o primeiro grupo de capoeira da cidade de Estância, o grupo “Tio Alípio” (12/02/1985). “Preciso honrar o estilo de meu mestre e fazer jus a esse cordel de mestre de capoeira”, afirma Muquirana. Trouxe consigo hábitos evoluídos e incomuns aos jovens locais, o que causava espanto e comentários. Morou com a avó paterna, dona das Dores, no bairro Porto D’Areia, em frente ao Colégio Estadual Gumercindo Bessa, onde hoje funciona o Centro Cultural “Casa do Mestre Muquirana”. Ali, na própria casa da avó, aconteceram as primeiras aulas. Os alunos dividiam uma pequena sala de piso de cerâmica, enquanto curiosos acompanhavam da janela. As aulas de capoeira, marcadas pela originalidade e respeito às tradições, versavam sobre a confecção de berimbaus, oficinas de toques e de cantos e o desenvolvimento das habilidades de tocar instrumentos como agogô, pandeiro e atabaque. A primeira apresentação pública do grupo ocorreu em 04 de maio de 1985, a convite da Prefeitura de Estância, em palanque montado na Praça Barão do Rio Branco. Narrado por Tuti, o evento lotou a praça e colocou a capoeira no centro das atenções das festividades.

Mestre Muquirana, por meio do “Tio Alípio”, lançou as bases da capoeira estanciana. Seu trabalho repercutiu em toda a região Sul do estado de Sergipe, atraindo atenção de grupos como: “Os Molas” (Mestre Lucas), “Aruandê” (Mestre Malazarte), “Novos Irmãos” (Mestres Jorge e Paulo) e “Filhos da África” (Mestre Franklin), que participaram de eventos promovidos pelo grupo em Estância, o objetivo era estabelecer relações e conhecer o estilo do “novo”mestre.

No fim de 1985, o diretor do Ginásio de Esporte Albano Franco (SESI), Dionísio (Dió), convidou Muquirana para ministrar aulas. O grupo ocupou uma sala no corredor térreo do ginásio, repleta de equipamentos de ginástica. A nova sede trouxe mais qualidade às aulas. O Grupo “Tio Alípio” permaneceu ativo no SESI até o fim da década de 90, quando teve suas atividades temporariamente suspensas. Aproveitando a fama, Muquirana expandiu a capoeira para cidades do Sul sergipano, como Itabaianinha, Tomar do Geru e Santa Luzia.

Registrar o papel daqueles que constroem história é uma luta da memória contra o esquecimento. Mestre Muquirana tem uma trajetória que preserva a originalidade e o respeito às tradições da capoeira. Mesmo em contexto adverso, foi capaz de plantar essa semente em Estância, tornando-se referência para gerações. Apesar de sua linhagem ser carioca, criou um estilo próprio, mesclando a capoeira de Sergipe (mais próxima da baiana) com a carioca, numa verdadeira simbiose cultural. Por isso ele representa para a capoeira uma espécie de griô, guardião da memória e dos saberes que busca preservar e passar adiante a herança cultural da capoeira.

“A Capoeira me fez forte, a ela devo parte da minha vida. É amor para sempre.” (Mestre Muquirana)

(*) Marcelo Vieira, professor e memorialista.




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