Na quadra de menino, Rufino aprendeu, com os pais, o ofício de tirar barro, transportá-lo no banguê, e o amassar, deixando-o no ponto exato para a tapagem de novas casas.
O telhado era levantado sobre os esteios, por um carpinteiro experiente do naipe de Antônio de Teodoro, Domingo das Dores ou Zequinha de Jarda, da Serrinha.
Com o telhado pronto, delineadas as portas e janelas e demarcados os cômodos, ajudantes encarregavam-se dos enchimentos, estacas magras e altas que dão sustentação ao amarradio das paredes. Após serem pregados ao frechal, varas lhes são amarradas com cipó de imbé, dando uma vista de enorme xadrez, atravéz do qual, tem início a operação com o barro preparado por Rufino.
No dia e hora acertados, um mutirão se constrói para que as paredes sejam lacradas com o barro delicadamente preparado para dar corpo às paredes da nova residência, que será ninho sacrossanto de uma nova família.
No Cajueiro e nas cercanias, ter uma casa de taipa, bem acabada, com telheiro, era coisa de luxo, um sonho de muita gente.
A tapagem era mais do que um serviço à novas famílias. Era um ritual de convívio, de partilha solidária, de celebração da amizade, que comportava doação, alegria, cantoria de bandeiras, muita cachaça e, ao final, um verdadeiro banquete, porque a comensalisade sela a comunhão de pessoas que se ajudam e se constroem, partilhando fazeres, saberes e prazeres.
Cada nova residência era fruto de uma celebração ao dom de ser para os outros, de aprofundar a fascinante arte da solidariedade, como prova de que a felicidade não é exigente. Basta que haja disposição e generosidade.
O barro de Rufino era o fio condutor, desde as escavações até os últimos afagos de mãos grotescas e calejadas, que davam formas vistosas às paredes com cheiro de casa nova.
Por Jerônimo Peixoto - Pesquisador, memorialista, advogado