Bom dia. Peço licença à sua casa e ao seu trabalho para tratar de um assunto que já deveria, por si só, transcender paixões partidárias e orgulho local: o futuro campus da Universidade Federal de Sergipe em Estância. É um pedaço do nosso futuro que está sendo discutido — e decidido — em público, mas com consequências que ameaçam transformar esperança em frustração.
Vivemos tempos em que conquistas coletivas viram moeda de troca de narrativas. Durante anos, a sociedade estanciana caminhou — cada qual à sua maneira — até alcançar algo raro e precioso: a sinalização real de que teríamos um campus da UFS aqui. Esse processo teve etapas formais e públicas: a Universidade lançou edital de credenciamento para doação de terrenos e houve um procedimento técnico, com prazos e critérios — tudo registrado oficialmente.
Pois bem: o que agora aparece à vista de todos é um movimento que, na prática, reduz a ambição inicial. Terrenos oferecidos e debatidos com a comunidade — entre eles áreas de grande dimensão que chegaram a ser apresentadas como aptas para abrigar um campus amplo — deixaram de ser a escolha preferencial. Hoje discute-se um espaço substancialmente menor; manchetes locais já registram uma diminuição drástica da área prevista, de algo na faixa dos 130 mil metros quadrados para apenas cerca de 30 mil metros quadrados. O resultado prático pode ser, como alguns já alertam, um “campuzinho” insuficiente para as necessidades de uma Universidade Federal.
A mudança não foi simplesmente técnica: teve caráter político. Menos de um mês depois de assumir a Reitoria, o novo reitor da UFS anunciou, em sessão da Câmara Municipal de Estância, a realocação da sede do campus para outro bairro — decisão tomada em resposta a um requerimento de vereadores, segundo registro da própria cobertura jornalística local. Essa alteração, comunicada de forma pública, rompe com o planejamento anterior sustentado em edital e critérios previamente divulgados. Para muitos, soa como uma guinada que não foi precedida de um debate técnico transparente com a comunidade.
Há, ainda, o episódio das doações. O edital abriu espaço para que pessoas físicas e jurídicas oferecessem terrenos como doação para instalação do campus. Três interessados chegaram a se credenciar — entre eles empresas e até figuras públicas locais, inclusive o ex-prefeito Ivan Leite e o atual prefeito — fatos noticiados e acessíveis em reportagens. Isso complicou o cenário, porque a presença de atores políticos e econômicos tão próximos cria, na percepção pública, terreno fértil para suspeitas de favorecimento, quando o certo seria que critérios técnicos e planejamento urbano norteariam a escolha.
O problema, no entanto, vai além dos números e das assinaturas. Trata-se da fratura que essa controvérsia abre entre a cidade e o próprio conceito de projeto público de educação superior. Estância não é menor em vocação ou em potencial comparado a outras cidades sergipanas que avançaram — e esse argumento não é retórica vazia: testemunhamos, nos últimos anos, municípios da região que cresceram em educação, infraestrutura e atração de investimentos. Por que negar à nossa cidade um campus que possa, desde o primeiro dia, comportar laboratórios, áreas esportivas, expansão e um intercâmbio com a comunidade? A resposta não pode ser político-partidária; tem que ser técnica e de interesse coletivo. (Contexto e debates locais sobre comparação com outros municípios podem ser lidos nas reportagens e manifestações públicas veiculadas na imprensa regional.)
É legítimo — e necessário — que a Universidade escute a Câmara de Vereadores, que o poder público municipal atue e que doadores dispostos contribuam. Mas é inconcebível que essa rede de interlocuções substitua critérios técnicos de planejamento, supostamente estabelecidos para garantir um campus com capacidade real de desenvolvimento. A memória de quem lutou por esta conquista exige transparência: não é aceitável que a estancianidade — esse sentimento de pertencimento que nos une — seja invocada para encobrir decisões que diminuem o alcance do projeto universitário. Quando a política local transforma uma demanda legítima em disputa por espaço ou em disputa de imagens, perde-se a visão do que deve importar: o bem público e o legado para gerações.
Portanto, faço um apelo firme, mas justo: que a UFS, o Ministério da Educação, os representantes municipais e a sociedade civil voltem a sentar-se com transparência, apresentem dados, estudos de impacto, projeções e, sobretudo, expliquem tecnicamente por que houve a diminuição da área proposta e a mudança de localização. Se existem razões técnicas, mostrem-nas sem rodeios. Se existem acordos políticos que alteraram o curso do processo, que sejam escancarados — e avaliados pelo tribunal do interesse público, não pelo tribunal das narrativas. A cidade merece mais do que justificativas por discursos; merece um campus que lhe sirva de motor de transformação.
Estancianos e estancianas nascidos aqui, como eu, não querem confundir amor pela terra com aceitação passiva de decisões que cerceiam o futuro coletivo. A Universidade é um investimento de séculos, não de momentos. Se queremos ver Estância competir e crescer — como Lagarto, Itaporanga, Indiaroba e outras cidades da região — precisamos exigir responsabilidade administrativa, planejamento de longo prazo e defesa intransigente do interesse público. Só assim transformaremos a nossa estancianidade em força — não em subterfúgio.
Encerrando, reafirmo: o debate sobre o campus da UFS não é briga de quem ganhou ou perdeu terreno político; é decisão sobre onde e como plantaremos o futuro. Que os responsáveis ouçam, expliquem e, se necessário, revisem decisões que comprometam a ambição legítima desta cidade.
Se Estância tem algo que nos une, é a capacidade de lutar por mais — não de nos contentarmos com menos.
Com informações do programa “Resumo Geral da Esperança”
Veiculação no dia 1º de outubro de 2025 pela Rádio Esperança FM